João Vinicíus Alves, 3 anos, foi diagnosticado aos
três meses de vida com microcefalia, uma anomalia caracterizada por um crânio
de tamanho menor que a média. A notícia pegou de surpresa os pais do garoto,
que o adotaram quando ele tinha apenas um mês de nascido.
O diagnóstico da microcefalia veio acompanhado
ainda de outra constatação: João era portador de autismo e com o passar do
tempo foi apresentando crises epiléticas, sequela que, conforme os médicos,
pode se manifestar em algumas crianças vítimas da anomalia.
Para Vicente Oliveira e Jeane Rodrigues, pais
adotivos do garoto, a doença não mudou em nada o amor e carinho pelo filho.
Pelo contrário. O casal logo fez um plano de saúde e agora a rotina diária se
divide entre os cuidados com João e as atividades do pequeno restaurante que
eles mantém na própria casa no bairro Aeroporto, Zona Norte de Teresina.
“A mãe biológica me entregou o bebê e após os
procedimentos judiciais sumiu e nunca mais apareceu. A partir daquele dia eu
passei a ter uma criança para chamar de filho. Só depois de três meses
descobrimos que o menino tinha microcefalia, mas isso não mudou em nada nossa
vida, ou seja, só aumentou nosso amor e carinho por ele”, falou Jeane.
João é acompanhado por um fonoaudiólogo,
fisioterapeuta e ainda pelo neurologista. As sessões acontecem duas vezes por
semana e o pequeno ainda faz uso de quatro tipos de medicação. Tudo faz parte
do tratamento para melhorar o desenvolvimento e qualidade de vida, já que a
microcefalia é uma doença irreversível.
Vicente e Jeane garantem que mesmo diante de
algumas dificuldades a família vive feliz. Para eles, os pais não devem encarar
a doença como um problema, mas como uma oportunidade que a vida está dando para
que demonstrem dedicação, doação e parceria com uma criança igual às outras,
mas que necessitará de mais atenção.
“Acreditamos que o João foi enviado por Deus, pois
mesmo com microcefalia ele vive normalmente. É uma criança ativa, inteligente e
carinhosa com todos. Sempre soubemos que poderíamos viver normalmente e que
isso não seria um problema. Amamos o nosso filho e daremos todo o carinho para
ele”, falou Vicente.
Casos no Piauí
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi) confirmou o
registro de 27 casos de microcefalia em recém-nascidos no Piauí em 2015, sendo
10 casos registrados apenas nas últimas três semanas. O aumento no número
de casos foi de 350% comparando com os registros do ano passado quando foram
confirmados apenas seis.
Diante da alta incidência de bebês nascendo com
essa anomalia, a Sesapi instituiu em parceria com outros órgãos como a
Universidade Federal do Piauí (UFPI), Fundação Municipal de Saúde (FMS),
Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER), Maternidade Santa Fé, Ciamca,
Laboratório Central do Estado (Lacen) e Ministério da Saúde, o Comitê de Operações
de Emergência em Saúde-Microcefalia.
O aumento significativo do número de casos no
Nordeste fez o Ministério da Saúde decretar recentemente emergência em saúde pública.
Além do Piauí, outros estados do Nordeste têm
registrado um aumento nos casos de microcefalia. Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Paraíba também relataram preocupação com os últimos dados.
As causas ainda estão sendo
investigadas. Uma das hipóteses relaciona o aumento de casos a infecções por
zika vírus - vírus que foi identificado pela primeira vez no país em abril
deste ano.
Segundo documento divulgado pela Secretaria de
Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco
(SEVS/SES-PE), parte das mulheres que tiveram bebês com microcefalia
apresentaram erupções na pele durante a gravidez. Apesar de este ser um dos
sintomas do zika vírus, não há evidências suficientes para associá-lo à
microcefalia, de acordo com o órgão.
Como saber se o bebê tem microcefalia?
A microcefalia é diagnosticada quando o perímetro
da cabeça é igual ou menor do que 33 cm – o esperado é que bebês tenham pelo
menos 34 cm. Mas atenção: isso vale apenas para crianças nascidas a termo (com
9 meses de gravidez). No caso de prematuros, esses valores mudam e dependem da
idade gestacional em que ocorre o parto.
O que causa a microcefalia?
Na maior parte dos casos são infecções adquiridas
pela mãe, especialmente no primeiro trimestre da gravidez, que é quando o
cérebro do bebê está sendo formado. Toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus são
alguns exemplos.
Outros possíveis causadores são abuso de álcool e
drogas ilícitas na gestação e síndromes genéticas como a síndrome de down.
FONTE: G1